terça-feira, 6 de outubro de 2009

FRED ZERO QUATRO QUESTIONA O MUNDO TECNOLÓGICO E A MÚSICA NESTE UNIVERSO DIGITAL



Fred Zero Quatro é vocalista e líder da banda Mundo Livre S/A, que praticamente fundou junto com a Nação Zumbi o movimento mangue beat há 15 anos.
Em entrevista, Fred se revela pessimista com relação ao futuro da música na era digital e critica o que ele de "um culto deslumbrado a qualquer tipo de avanço tecnológico".

"Uma coisa bacana do circuito atual (permitido pela internet), é que um artista ou banda com trabalho reconhecido e público fiel não precisa mais se mudar de mala e cuia de sua cidade, abandonar seus amigos e família, pra tocar sua carreira. Já tentei morar em Sampa, fiquei um ano na Vila Madalena, mas não me adaptei. Cresci comendo peixe frito e caranguejo na praia. Hoje a banda mora em Recife e consegue tocar a carreira, com uma agenda permanente de shows em todo o Brasil," diz.


"Agora mesmo ganhamos de presente um clipe sensacional de um fã que mora em BH, nunca vimos o cara, que está se formando em um curso de design ou artes visuais, sei lá, com a música “Estela, A Fumaça do Pajé Mitisubixxi”. Ainda não lançamos oficialmente, precisamos da autorização da (gravadora) Deck, mas já tá repercutindo bem no YouTube. Isso é só um exemplo (de como artistas estabelecidos podem tirar proveito das novas tecnologias)", conta.

"Acho que (a troca de arquivos na rede) é a polêmica mais importante do momento histórico atual, e infelizmente parece que ainda não tem despertado muito interesse no meio intelectual brasileiro. Muitos escritores americanos e europeus têm publicado ensaios importantes, levantando questões urgentes, mas aqui há uma espécie de vazio a respeito. Tenho me sentido como se tivéssemos regredido ao estágio tribal, e estivéssemos todos deslumbrados com os novos apetrechos mágicos (espelhos? pólvora? bússolas?) que o homem branco tem despejado nas vitrines dos nossos shopping centers. Não questionamos nada", afirma.

E continua: "No meu tempo de faculdade (Fred é jornalista), McLuhan, Umberto Eco, Baudrillard e outros chacoalhavam as mentes jovens do planeta com reflexões essenciais sobre a aldeia global, a cultura de massa, a sociedade de consumo, etc. Hoje o ambiente urbano parece mergulhado numa espécie de fundamentalismo, um culto deslumbrado a qualquer tipo de avanço tecnológico. Não sei de onde vem esse meu defeito, mas eu nunca consegui me conformar com esse tipo de visão de curto prazo. "Uau, que massa, agora eu posso assistir a todos os filmes, ler todos os jornais e baixar milhares de músicas de graça!"


"E as pessoas ainda acham que isso tem a ver com ‘atitude’. Sinceramente, acho paradoxal, justo num momento em que o viés da sustentabilidade alcança status de prioridade absoluta de toda e qualquer agenda global. Alguns fãs da banda começam a me questionar sobre isso na estrada, e eu respondo com uma pergunta simples: com o provável desaparecimento das gravadoras, quem você acha que vai bancar a produção/gravação/mixagem/masterização de nossas novas músicas? O desmantelamento da indústria teria, para os evangelizadores da web, um efeito altamente positivo na medida em que provocasse o fim da parada de sucessos. Será?"

"Só mais uma coisa sobre a internet: acho que defender o fim da indústria fonográfica equivale a decretar a morte do rock&roll, pelo menos se considerarmos a definição mais clássica do gênero: "uma forma de se ganhar muito dinheiro, em pouquíssimo tempo e com muito estilo"(Malcom Mclaren). Claro, nem todo mundo ficava rico com o rock, mas os que ficavam financiavam a máquina e motivavam a molecada a largar tudo e arriscar", conclui.

Fonte: http://blog.estadao.com.br/blog/link/?title=vivemos_em_um_culto_deslumbrado_a_qualqu&more=1&c=1&tb=1&pb=1

Um comentário:

Sérgio Camatta disse...

"Compartilhamento de arquivos", assunto polêmico este , mas sinceramente acho difícil evitar isto, mas legal que um cara antenado como Fred Zero Quatro fale sobre isto, aí quem sabe encontramos um meio termo nisso tudo !!!!!