terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

EM PLENO CARNAVAL, UM FESTIVAL NA TERRA DO FREVO

Desde 1995, o Carnaval em Pernambuco não é mais o mesmo. Foi neste ano que surgiu o Festival Rec-Beat, hoje um dos maiores eventos do calendário musical pernambucano e integra a ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes e também a ADIMI – Asociacion para el Desarollo de la Industria de la Musica Iberoamericana.
O que parecia improvável naquela época logo se revelou ser um imenso sucesso: reunir grupos de diferentes estilos, não-necessariamente carnavalescos, para tocar no berço do frevo. Além de grandes shows com atrações novas e já consolidadas, o Rec-Beat ainda abriga a concentração do irreverente bloco Quanta Ladeira, atraindo milhares de foliões na tarde do domingo.
O festival também possui em sua programação o RecBitinho, uma versão mirim do evento voltado a crianças e para todas as famílias que desejam brincar carnaval de uma forma diferente na tarde da segunda-feira. Vale lembrar que o Rec-Beat, assim como o Carnaval Multicultural do Recife, é gratuito e aberto para público de todas as idades e lugares.
Com entrada gratuita desde 1999, quando migrou de Olinda para Recife e passou a ser patrocinado – em princípio via captação própria, e, desde 2003, englobado no carnaval da capital, o Rec-Beat é realizado na avenida Cais da Alfândega, à beira do Rio Capibaribe.
Já passaram pelo festival em edições anteriores importantes nomes da música nacional como Seu Jorge, Pinduca, Replicantes, Tom Zé, Trio Mocotó, Fellini e ainda uma nova geração de bandas da cena independente como Pato Fu, Vanguart, Curumim, Móveis Coloniais de Acaju, Montage e Bonde do Rolê. Os maiores nomes da atual cena pernambucana também já passaram pelo palco do Rec-Beat e deram prova do imenso prestígio que o evento carrega, a exemplo de Lenine, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Otto, Mombojó e Cordel do Fogo Encantado.
Ao completar 15 anos, nesta edição de 2010, já com uma posição consolidada entre os maiores festivais do país, o festival vem há alguns anos tentando promover um maior intercâmbio musical entre atrações da América Latina e países ibéricos. O Rec-Beat transita entre a tradição e novas tendências, incluindo em sua programação o novo, o irreverente, e o inusitado.
VEJA ALGUMAS BANDAS QUE ROLARÃO NO REC-BEAT DESTE ANO:
A BANDA DE JOSEPH TOURTON (PE)

A Banda de Joseph Tourton é uma das mais novas e significativas bandas de uma nova geração do cenário musical pernambucano. Composta por jovens músicos e trafegando pelo som instrumental, o grupo não se apega a ritmos pré-definidos ou estilos limitadores. Sua música é livre, sem limites e cadenciada de acordo com os andamentos e ritmos de cada momento. Seus integrantes se utilizam do improviso e da vontade de criar experimentações em cima de cada um dos instrumentos que utilizam: guitarra, baixo, escaleta, flauta transversa, bateria e percussão.
ADIEL LUNA E COCO CAMARÁ
Adiel Luna nasceu em Tiúma, bairro de São Lourenço da Mata, caminho entre a Zona da Mata Norte e a Região Metropolitana do Estado. Morou durante 10 anos em Camaragibe, cidade conhecida por seus caboclinhos e terra de grandes coquistas. Esta vivência despertou seu interesse pelo Coco de Roda, aliado às tradições do repente e cantoria. Em 2002, formou o grupo Coco Camará e juntos, iniciram um resgate histórico dos Coquistas antes existentes na cidade, na busca de um som único e tradiconal. Com uma batida marcante, letras de fácil memorização e inúmeros improvisos, Adiel Luna e Coco Camará chegou a ser convidado para participar do Karneval der Kuluren, evento cultural realizado em Berlim-Alemanha, representado a cultura popular pernambucana.
CALDO DE PIABA (AC)
Caldo de Piaba vem do Acre, longe assim. São uma banda instrumental que mistura Carimbó com a guitarrada do Pará. Mas a mistura que eles fazem ainda passa por ska e brega, samba rock e Beatles. As releituras são uma parte importante do trabalho do Caldo que, na medida em que começa a aparecer na programação de festivais, também leva a composição tradicional do Acre para novo público. São uma daquelas bandas que, quando você vê ao vivo, precisa de uns três ou quatro minutos para se recompor.
CÉU (SP)
Consagrada definitivamente entre as cantoras de sua geração na música brasileira, a cantora paulista Céu encerra a terceira noite do festival Rec-Beat 2010. Com o repertório do disco “Vagarosa”, aclamado pelos críticos da Rolling Stone como o melhor lançamento do ano passado, Maria do Céu Whitaker Poças mergulha fundo em climas e conexões musicais brasileiras, jamaicanas e universais. MPB é um rótulo muito frágil para a cantora, que já c
onquistou o público internacional com suas músicas com voz suave e muita malemolência.
CIDADÃO INSTIGADO (CE)
Fernando Catatau, guitarrista e líder da banda Cidadão Instigado, é um dos mais importantes artistas da primeira década deste século na música brasileira. Dois de seus discos encabeçam as listas de melhores lançamentos da última década. Além de seu trabalho no Cidadão Instigado, Fernando Catatau é requisitado constantemente para produzir e tocar ao lado de nomes como Céu, Kassin, Otto e Arnaldo Antunes. Em sua banda tocam também Regis Damasceno (guitarra e violão), Rian Batista (baixo), Clayton Martin (bateria) e Kalil Alaia (efeitos). Seu mais recente disco “Uhuuu!” foi um dos vencedores do Prêmio Pixinguinha e traz um som orgânico e mais parecido com o tocado nos seus shows com uma energia alegre e canções mais ensolaradas. Cidadão Instigado faz um rock influenciado pela música nordestina e pelo rock dos anos 70, além da música romântica “brega” brasileira – o que se evidencia pelo tom muitas vezes melancólico das canções.
DIVERSITRONICA (PE)
Diversitronica é um projeto de música eletroeletrônica executado por três dos melhores produtores musicais do Recife. Com powerbooks, teclados, guitarras, baixo e duas baterias, William Paiva e Léo Domingues (ambos do Estúdio Mr Mouse) e Missionário José constroem uma música dançante de fato que deveria ser obrigatória em toda pista de dança. Não são apenas jam sessions que formam o groove do Diversitronica. A experiência dos produtores como músicos em outros projetos e bandas lhes dá gabarito suficiente para saber como trabalhar e retrabalhar um gênero que se tornou tão enfadonho como a chamada “dance music”. O Diversitronica ao vivo é empolgante, revitalizador de energias e, claro, dançante. As influências da banda são as mais diferentes possíveis. As referências mais imediatas são Atari, MSX, Sega, Nintendo, Jaspion, Sigue Sigue Sputnik, Afrika Bambataa, Depeche Mode, New Order, Fasolki, Daminhão Experiença, Gang Of Four, Zumbi Do Mato, Lee Perry e por aí vai.
GABI AMARANTOS (PA)
Gabriela Amaral dos Santos, mais conhecida por Gabi Amarantos, iniciou na carreira de cantora desde os 15 anos de idade, como cantora “gospel”, onde chamava atenção por sua voz grave e que contagiava a todos com sua animação. Foi convidada posteriormente a cantar na noite em grupos de pop-rock e MPB. Com o tempo, foi aprendendo a misturar a música regional paraense com samba numa mistura de ritmos que passeava entre as décadas de 70, 80 e 90.
MADENSUYU (Bélgica)
Madensuyu é a dupla belga Stjin e Vervondel, que decidiu fazer uma música desafiadora sem se ater a rótulos. O grupo, que em turco significa “Água Mineral”, existe desde 2004 e lançou no ano seguinte de sua criação o EP “Adjust We”. A ele se seguiu o disco “A Field Between” lançado em 2006, que obteve boa repercussão na Europa graças aos shows empolgantes da dupla. Gritos, riffs estranhos, batidas aceleradas e muitos efeitos fazem parte do som deste grupo que tem realizado diversas turnês pela Europa ao lado de grupos de som industrial e eletrônico.
MAGIC SLIM (EUA)
Magic Slim dispensa qualquer apresentação. O gigante de 70 anos impressiona apenas por seu simples andar. Nascido na cidade de Torrence, Mississippi, Slim é um ícone do Chicago Blues. Gravou seu primeiro disco em 1976 e, desde então, vem aumentando sua discografia. São 28 discos oficiais com diferentes gravadoras. Seu mais recente trabalho é Midnight Blues, lançado em 2008. Cada show de Magic Slim é uma surpresa. Não existe ensaio ou set list. “Eu vejo qual é o tipo de público, toco algumas músicas e vejo como as pessoas reagem, como elas dançam e vou por aí”, afirma o bluesman. Mas uma coisa é certa, o som que sai do palco é o que de melhor se faz atualmente de blues em todo o mundo.
OJOS DE BRUJO (Espanha)
Ojos de Brujo é um grupo formado em Barcelona há 14 anos. A banda surgiu a partir do encontro de vários músicos locais que se dispuseram a fazer jam sessions compartilhando suas diferentes influências musicais. A partir destes encontros, a banda decidiu gravar seu primeiro disco “Vengue”, que foi lançado em 1999. A boa repercussão do lançamento fez com que circulassem em festivais pela Europa mostrando sua fusão de estilos como reggae, hip hop, rock e eletrônica, tendo por base a cultura flamenca. O grupo hoje tem em sua formação Ramón Giménez, Juanlu, Marina “la canillas”, Xavi Turull, Panko, Sergio Ramos e Maxwell Wright.
PUERTO CANDELARIA (Colômbia)
Um dos grandes representantes do jazz na Colômbia, o grupo Puerto Candelaria, de Medellín, incorpora em sua música elementos atuais sem perder a essência dos ritmos e das melodias colombianas tradicionais, criando novas estruturas que influenciaram outras bandas e já fazem parte da história da música colombiana. Criado no ano 2000, Puerto Candelaria é formado por Juancho Valencia (piano e direção musical); Eduardo González (baixo, contrabaixo); José Tobón (saxofone soprano, clarinete); Cristian Ríos (trombone); Juan Fernando Montoya (percussão) e Juan Guillermo Aguilar (percussão).
RENEGADO (MG)
Ultrapassando barreiras e misturando ritmos, o rapper mineiro Renegado tem se destacado como um dos artistas mais promissores do hip hop nacional, aproximando o gênero das raízes musicais brasileiras e apropriando-se de um conciso discurso social. O trabalho realizado em sua carreira de mais de 10 anos foi consagrado em 2008 no prêmio Hutúz, o maior do gênero hip hop na América Latina, no qual Renegado foi escolhido o “Artista Revelação de 2008”. Seu primeiro CD, intitulado “Do Oiapoque a Nova York”, foi lançado no segundo semestre de 2008 e foi produzido pelo conceituado Daniel Ganjaman, responsável por trabalhos do Instituto e Sabotage. Em seu trabalho, Renegado reforça a junção de arte e ação social, criando e reforçando laços que semearão uma rede conectando os agentes da cena de forma a estimular o desenvolvimento da cultura hip hop nacional.

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