quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A IMORTALIDADE DE UM MOMENTO

Naquele dia em que, com grande dificuldade, gritei prá você "sim, sim, eu também quero muito" o ar entrou em vibração. Em ondas concêntricas evolou-se meu sentimento, saiu pela janela, como pássaro tonto, esbarrou ali no muro, contornou acolá o tronco de amendoeira, e ganhou as alturas. Continuam as moléculas o seu jogo, cada vez mais tênue, e cada vez mais misturado com os outros movimentos, com os outros acasos, até o dia, dentro de dez anos, de mil anos, em que um resto de frêmito volte a passar, de leve, trazido pela brisa do entardecer, nos finos cabelos de uma jovem pensativa, que nunca, nunca poderá adivinhar que dentro daquela carícia do vento vem escondido o primeiro grito, dinamizado, molecular, de um coração que vibra imensamente feliz.
*Baseado no livro Lições de Abismo de Gustavo Corção

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