segunda-feira, 2 de maio de 2011

120 ANOS DEPOIS "O RETRATO DE DORIAN GRAY" É LANÇADO SEM CORTE


O texto, agora reproduzido como Oscar Wilde gostaria que tivesse sido publicado à época, chega ao mercado em um livro de capa dura, ilustrado e cheio de notas informativas que explicam referências e contextos culturais, informa a Barnes & Noble.
Além disso, há explicações a respeito do processo de edição feito em 1891, quando foi lançado, e marcações de trechos que, para os editores, deveriam ser limados, como este que traduzo aqui livremente:
“Eu nunca amei uma mulher… do momento que encontrei você, você teve extraordinária influência sobre mim… eu o adorei enlouquecidamente, extravagantemente, absurdamente. Eu sentia ciúmes de todas as pessoas com quem você falava. Queria você todo para mim. Só era feliz quando estava com você”.
Evidentemente, o texto, mesmo cortado, chocou as sociedades europeia e americana da época por seu teor homossexual (como lembra matéria da Barnes & Noble, homossexual era palavra proibida em 1891. Dorian Gray foi chamado de “corrupto”, “leproso” e “decadente”, entre outros substitutos verbais para se referir à homossexualidade – ou à “homosensualidade” – do texto).
Basicamente, a primeira edição, aquela que prevaleceu por 120 anos, foi feita para conceder ao personagem principal um aspecto mais monstruoso e menos simpático do que o desejado por Wilde, que pouco participou do processo de corte (veja aqui a matéria e o trailer de O Retrato de Dorian Gray, adaptado por Oliver Parker, que acaba de estrear nos cinemas).
Dorian Gray teria sido inspirado em John Gray, poeta por quem Wilde foi apaixonado.
Casado com Constance Lloyd, mulher de beleza supostamente arrebatadora, Wilde vivia uma vida clandestinamente gay.
Por isso, anos depois do lançamento de Dorian Gray, foi acusado de perversão sexual e condenado. O escritor jamais se recuperaria do baque e morreria sozinho e em dacadência.
Wilde certamente não poderia imaginar que, 120 anos depois, seu texto original seria reverenciado e resgatado na íntegra, e que o mundo estaria a tal ponto mudado que um nobre pop-star inglês (sir. Elton John) frequentaria o casamento do príncipe acompanhado de seu namorado.

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