quarta-feira, 15 de junho de 2011

QUANDO A ARTE ANTECEDE A REVOLUÇÃO - MOSTRA DE CINEMA EM SAMPA

Uma das primeiras sequências de "Microphone", filme dirigido pelo egípcio Ahmad Abdallah, de 33 anos, mostra um grupo de hip-hop, tentando convencer o funcionário do Ministério da Cultura a incluí-los num show.
O burocrata não entende a razão de ser daquelas letras que transpiram revolta. Sugere que os jovens rimem palavras românticas. "Estamos cansados de canções românticas", replicam eles.
A cena resume o descompasso entre velho e novo, entre oficial e underground que "Microphone", mesclando ficção, documentário e música, consegue captar de maneira original e divertida.
É simbólico que o filme tenha sido o escolhido para dar a largada à 6ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. O evento, que começa hoje para convidados e amanhã para público, reúne 15 filmes vindos de países como Tunísia, Egito, Síria, Emirados Árabes, Iraque, Argélia e Marrocos.
Inicialmente prevista para setembro, a mostra foi antecipada em função das revoltas que eclodiram na região.
É que as curadoras, ao garimpar os títulos que trariam para São Paulo, se deram conta de que, naquelas imagens, encontrava-se um prenúncio dos acontecimentos que o mundo pararia para ver no início deste ano.

FOME DE LIBERDADE

"Nos últimos quatro anos, temos visto o nascimento de uma geração de realizadores que surge como um sopro de ar fresco", diz a curadora tunisiana Dora Bouchoucha.
"O ativismo da nova geração no campo do cinema não só reflete os recentes acontecimentos como mostra que, em todos os domínios, os jovens estavam famintos por liberdade, justiça e democracia", diz Bouchoucha.
Isso não significa, porém, que a seleção seja composta por filmes essencialmente políticos. Há espaço para o riso e para o romance nessa produção que, não raro, tem de driblar a censura com metáforas ou, simplesmente, jamais estreia nas salas locais.
Dentre os filmes trazidos para São Paulo há desde uma grande produção como "Fora da Lei", do francês de origem argelina Rachid Bouchareb, até filmes de baixíssimo orçamento, como "Microphone" e "VHS Kahloucha", que o tunisiano Nejib Belkadhi bancou sozinho.
Também variável é o nível de problemas que cada realizador enfrentou. "A censura existe em todos os países árabes, mas em diferentes graus", pontua Bouchoucha.

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