sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O HEAVY METAL SOBREVIVE AO TEMPO. QUAL É O SEGREDO? O QUE MOVE ESTE MASSACRADO GRUPO CULTURAL?


O Heavy Metal, tão tradicional em seu formato, segue transfigurando-se em muitas vertentes ao passar dos anos, porém sempre centrado no riff de guitarra, nos duetos de solo e no virtuosismo de vocal e bateria. Animal selvagem da cultura pop - geralmente faz cara feia a adjetivos como "dançante", "sensível" ou "colorido" - seu processo de extinção já foi cantado por diversas vezes. O fato, porém, é que ele segue dando mostras de que é um fenômeno auto-suficiente.

Em 2005, o antropólogo Sam Dunn, contrariado com a pecha do estilo, elaborou um estudo minucioso do heavy metal em seu filme/documentário Metal: a Headbanger's Journey. Exibindo entrevistas com os mais seminais expoentes das dezenas de subcategorias, o documentário ultrapassou seu status cult e emplacou em cinemas ao redor do mundo.

Como explicar a longevidade deste estilo entrincheirado?

A lealdade do metaleiro

O consultor de vendas Giuliano Leoni, de 33 anos, sabe que seus anos de cabelão e pulseiras estão para trás. Mas para ele, Heavy Metal não deixou de ser um estilo de vida. "Se você gosta mesmo, vai estar ouvindo as mesmas bandas daqui a 20 anos. Não é algo que os outros entendam", assegura ele, que esteve no show da Dama de Ferro. "Foi animal. Pude presenciar aquele idealismo típico do estilo. Metal é metal e tem que seguir assim", afirma, categórico.
Por dentro o mesmo fanático que perambulava ao redor da loja de headbangers Woodstock, nos anos 80, Giuliano traça um paralelo com a paixão do futebol. "Eu nunca senti a mesma energia que o metal me dá. É como torcer para seu time no estádio: o som interage de forma perfeita, é algo que une os metaleiros".

Nova geração: molecada papo-cabeça

Fãs mais novos, como a estudante Carol Fratogianni de 17 anos, foram "iniciados" pela discografia dos pais. "Desde pequena mantive contato. Meu pai ouvia os clássicos, Kiss, Black Sabbath...", diz. Com o passar do tempo, seu gosto próprio foi tomando forma, por meio de uma aguçada curiosidade: ela é fã de carteirinha de Viking Metal - nascedouro de bandas direto da Escandinávia, que exploram "contos de mitologia nórdica", como explicou, e cantam na língua-natal. Inacessível, você acha? Não para a guerreira Carol: "É verdade... eu sou uma maluca! Estudo sueco justamente por isso".

O metal como efeméride

Mas uma coisa que podemos afirmar sem hesitar é: seja por anos, meses ou apenas algumas horas, todo mundo já foi metaleiro um dia. O universitário Felipe Braga, por exemplo, é um desses que revive o passado, mas com tom de arrependimento. "Teve uma época que era moda ser metal, andar de preto, chapar de vinho na praça... igual hoje é ser emo!", disse.
Nos idos de 1984, a bióloga Sílvia Geurgas, hoje com 37 anos, se chapava com remédios contra Mal de Parkinson e enxaqueca. "Aquela foi a época de ouro do metal. As mulheres babavam naqueles metaleiros que andavam na Treze de Maio com o cabelo escovado até a bunda, pareciam a Farah Fawcett!", recorda, com um misto de carinho e desdém.
Mas o que aconteceu com aqueles tempos, Sílvia? "Naquele tempo, ou você era 100% da galera, ou excluído. Então sempre havia muita gente que escondia o verdadeiro gosto", diz, citando um ex-namorado cujo "desvio" mais secreto de todos era sua paixão pelos Carpenters. "E com o passar do tempo, vamos refinando nosso gosto", filosofa. "Eu nunca entendia as letras. Quando descobri a besteira que escreviam... deu uma brochada! Que demônio o quê?".
Decepções à parte,enquanto a magia dos shows pesados continuar a ser alimentada pelo entusiasmo de seus seguidores, haverá gás para a invenção de mais riffs e catarses emocionais.

É bem como Fernando descreve o show do Iron Maiden: "com aquela idade ainda levantam milhares de pessoas! Isso mostra que o metal ainda tem muito tempo pela frente".


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