quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

HAITI: O TERREMOTO É A MENOR DAS TRAGÉDIAS DO HAITI

Realmente há muito mais cenas atrás da cortina do que nossos ouvidos podem escutar e nossos olhos podem ver. E a depender da nossa imprensa jamais ficaremos sabendo.
Atualmente, fala-se, diariamente, sobre os fortes abalos sísmicos no Haiti mas poucos se perguntam o porque de tanta miséria a ponto torná-lo o país mais pobre das américas.

Caetano Veloso já cantou versos ao Haiti: "... pensem no Haiti, rezem pelo Haiti..."

Por isso o texto a seguir pode contribuir para responder algumas indagações dos espíritos mais inquietos que se perguntam acerca das razões daquele lindo país, o Haiti, estar em tal situação.


Os pecados do Haiti - Eduardo Galeano, escritor uruguaio

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.
Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. Tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate.
Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.
O Haiti foi o primeiro país livre das Américas.
Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934.
Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros.
 Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".
O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".
A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

MUITO TEMPO antes do terremoto, a situação do Haiti já era comparável à de muitos sem-teto nas ruas de grandes cidades dos EUA: pobres demais e negros demais para ter os mesmos direitos concretos que outros cidadãos.
Em 2002, quando um golpe militar que teve o apoio dos EUA afastou temporariamente o governo eleito da Venezuela, a maioria dos governos no hemisfério reagiu rapidamente e ajudou a forçar o retorno do governo democrático. Mas, dois anos mais tarde, quando o presidente haitiano democraticamente eleito, Jean-Bertrand Aristide, foi sequestrado pelos Estados Unidos e levado de avião para o exílio na África, a reação foi fraca.

Agora toda a hipocrisia mundial se une para salvar doentes e desabrigados do desastre no Haiti. O que virá depois? Até onde o Brasil está metido nisso ou serão apenas boas intenções? Neste caso o melhor é que a História não se repita.
"...PENSEM NO HAITI, REZEM PELO HAITI..."

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