quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MUITO ALÉM DA MOTOWN: O sucesso da empreitada de Berry Gordy Jr. abriu as portas para outros negros fundarem seus selos e darem chance para as criações de novos artistas com uma liberdade até então pouco experimentada.


Desde que o folclorista norte-americano John Lomax entrou nas prisões e nas fazendas do Texas, no começo do século XX, para gravar spirituals, work songs, blues e folks cantados pelos negros nos Estados Unidos, a música nunca mais foi a mesma. John e seu filho, Alan Lomax, foram os pioneiros na gravação de música folclórica norteamericana, que tinha duas raízes: Irlanda e África. Nas gravações apareceram pela primeira vez os registros do que formaria a base da música americana, ou seja, o blues, que se ramificaria inumeráveis vezes em jazz, soul, funk, rock´n´roll, disco e muito mais. Com o surgimento da indústria fonográfica, as gravadoras começaram a pipocar. Norman Granz, Alfred Lion, Ahmet Ertegün, Creed Taylor, Jim Stewart, Leonard e Phil Chess eram alguns dos fundadores de selos musicais importantes que exploravam, basicamente, música feita pelos negros nos EUA, tornando nomes como Ray Charles, Otis Reading, John Coltrane e outros conhecidos mundialmente. Só tinha um detalhe: apesar de todos gravarem em sua maioria artistas negros, os donos dessas gravadoras eram brancos. Nativos ou descendentes de imigrantes, todos se davam bem com os seus músicos e viviam em um ambiente em que a segregação perdia feio para o amor à Música. Mas ainda assim faltava uma base de confiança: uma gravadora capaz de entender todos os anseios criativos e políticos, não só dos músicos, mas do público negro que começava a se levantar contra o sistema estabelecido até então. Nesse momento Berry Gordy Jr. entra em ação.

A mais poderosa

Em 14 de janeiro de 1959, Berry Gordy Jr., produtor musical que havia descoberto a banda de Smokey Robinson, a The Miracles, fundou a Tamla Records depois de pegar um empréstimo de 800 dólares com sua família. Um ano depois, um novo selo, a Motown Records, que incorporou a Tamla e se tornou a mais poderosa gravadora de música negra da história fundada por um negro. A Motown nasceu em Detroit, sob a junção de “motor” com “town”, já que a cidade era conhecida como a “cidade motor” por causa das fábricas de automóveis e da Boeing. O auge criativo foi nos anos 1960 e 1970, mas o selo dura até hoje, subsidiado pela Universal Music. Foram também os artistas da Motown os únicos capazes de concorrer com The Beatles nas paradas de sucesso e vendas de discos na época. “O processo de transformação e aceitação de músicos negros em lugares onde não era permitida a entrada deles, a credibilidade artística e uma indústria monstruosa em formação permitiram que isso acontecesse”, diz Jorge DuPeixe, da Nação Zumbi. Isso, aliado a nomes, que representavam essa disputa, a canções que falavam mais do que “eu te amo” em suas letras, foi essencial, não só para o crescimento da gravadora, mas também para a afirmação do movimento negro e sua representatividade na mídia, já que era impossível ignorar artistas tão populares e talentosos quanto Marvin Gaye, Stevie Wonder, Supremes (com Diana Ross), The Jackson 5, Temptations e outros.


Berry Gordy Jr. fundador da Motown, a mais famosa gravadora negra do mundo. Acima seu casting de estrelas
Para lembrar, Michael Jackson, nos anos 1980, lançou pela Motown o disco Thriller, o mais vendido da história da música mundial. O sucesso da empreitada de Berry Gordy Jr. abriu as portas para outros negros fundarem seus selos e concederem a chance para novos artistas criarem com uma liberdade até então pouco experimentada. Assim, surgiram gravadoras fundamentais, embora menos conhecidas. “Acho que toda a fundação e alma da música mundial são de origem ‘negra’. Do rock, passando pelo mento, calypso, blues, soul, samba, frevo, jazz. Os selos só estavam no lugar certo, na hora certa”, complementa Jorge.

Fonte: http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/139/artigo158121-1.asp

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