quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

ROLLING STONES: A HISTÓRIA DO ROCK AND ROLL CIRCUS

"O fim dos anos 60 foi uma época de eventos especiais. Os nossos foram desastrosos". A bem humorada frase de Keith Richards traz uma reflexão interessante sobre o período mais efervescente da cultura do século XX. Num período em que festivais como Woodstock e manifestações artísticas vanguardistas dominavam o contexto intelectual, a inquietação dos ROLLING STONES só levou a banda a promover dois eventos fracassados: o festival de Altamont, em 1969, e o "Rock and Roll Circus", realizado um ano antes.
Há um certo rigor na avaliação do guitarrista dos Stones, já que se o Altamont foi realmente desastroso, por conta da enorme confusão que causou a morte de uma pessoa, o "Rock and Roll Circus", não chegou a fracassar, já que nem foi lançado. O circo patrocinado pelo quinteto britânico foi idealizado como um especial de televisão, que nunca chegou a ser exibido, vindo a ser lançado em VHS quase 30 anos mais tarde.
Os motivos para o "fracasso" da empreitada de Jagger e Companhia são muitos, mas antes de expô-los, é necessário entender a origem da idéia e sua concepção. Como Richards afirmou, no fim dos anos 60, havia uma grande confluência de idéias vanguardistas, incrementadas pelo espírito da contracultura e pelos embalos criativos de uma geração que não tinha limites para seus devaneios. Os Beatles piravam na psicodelia de "Sgt. Pepper", lançavam filmes loucos como "Yellow Submarine" e Magical Mistery Tour". Artistas como JIMI HENDRIX e THE WHO se congregavam em festivais com outros grandes nomes da época revolucionando a música e propagando um ideal de paz e amor. Aliado a isso, o clima na capital britânica era regido pelo "Swinging London", que trazia uma transformação profunda nos costumes e efervescência cultural. E os Rolling Stones? O que faziam os Stones em todo esse contexto?
Bill Wyman, então baixista do grupo, afirmou certa vez que os Stones estavam sempre correndo atrás das tendências. A psicodelia do Sgt. Peppers passou a ser referencia para o "Their Satanic Magesties Request", mas o resultado, segundo o próprio Wyman, ficou muito aquém do esperado. Isso fez com que os Stones, principalmente na figura de Mick Jagger, tentassem trazer algo revolucionário, que colocasse a banda como uma referência, assim como os seus "rivais" de Liverpool.
Muitos apontam o "Rock and Roll Circus" como resposta ao "Magical Mystery Tour", filme protagonizado pelos Beatles, e transmitido na televisão pela BBC. Mas a idéia o "Circus" era tentar misturar vários aspectos da cultura da época: a reunião de vários músicos talentosos, característica dos festivais; o impacto das imagens, utilizadas pelas bandas em filmes e especiais de TV, e a psicodelia e vanguardismo típicos daquele momento.
A idéia original do circo do Rock and Roll era ainda mais ousada e, segundo Pete Townshend (guitarrista do Who), nasceu de um encontro entre ele, Mick Jagger e Ronnie Lane (guitarrista que havia sido do THE SMALL FACES e, naquele momento, fazia parte do FACES). Os três estavam em um estúdio para gravar alguns backing vocals para uma demo dos Stones, quando Townshend sugeriu a criação de uma turnê que excursionaria por todos os Estados Unidos, como um legítimo circo. As bandas, Rolling Stones, Who e Faces, viajariam em trens e teriam uma estrutura que seria transportada nesses mesmos veículos. Eles se instalariam em tendas e se apresentariam em uma lona que seria comprada do tradicional circo Barnum & Bailey.
Jagger chegou a contatar o projetista de palcos Chip Monck para esboçar a idéia de como seria a estrutura em que as bandas se apresentariam. Algumas reuniões ocorreram em Los Angeles para tentar colocar a idéia em prática, que previa, inclusive, a gravação de um documentário com imagens da apresentação. Entretanto, a idéia não foi adiante por conta da estrutura ferroviária norte-americana que, naquela época, encontrava-se em péssimas condições e priorizava o transporte da carga, dificultando o transporte de passageiro. A logística da turnê seria altamente sacrificante, já que os trens eram muito lentos e o deslocamento entre uma cidade e outra demoraria muito. Nos anos 70, Ronnie Lane chegou a excursionar com sua nova banda, SLIM CHANCE, mas o projeto tinha dimensões infinitamente menores do que seria a turnê circense de Stones, Faces e Who.
Frustrada a idéia original, Mick Jagger tentou adaptá-la para um filme que tivesse o mesmo espírito daquela surgida em conjunto com Townshend e Lane. Foi aí que ele chamou o diretor Michael Lindsay-Hogg, que já havia participado da produção de alguns vídeos promocionais da banda, e formulou o que seria o "Rock and Roll Circus".
A idéia era combinar números circenses com espetáculos de rock. Para isso, Jagger e Lindsay-Hogg queriam contar com um elenco de grandes bandas e combiná-las com um aspecto mambembe de um circo decadente. A idéia era contrapor a grandeza dos grupos a simplicidade e espontaneidade do circo. O vocalista dos Stones queria contar com nomes consagradas como os Beatles e o Who, além de novos talentos. A inviabilidade de contar com os Fab Four, fez com que outras bandas e artistas fossem chamados.

Rodado em um velho galpão londrino, conhecido como Roundhouse, o filme começa com todos os artistas que fariam parte do espetáculo adentrando o picadeiro, fantasiados de palhaços e outros personagens circenses. Mick Jagger e Keith Richards fariam o papel de mestres de cerimônia, apresentando as atrações do circo.
O grupo liderado pelo vocalista e flautista Ian Anderson passava, no entanto, por um delicado momento de transformação. Eles acabavam de demitir Mick Abrahams e estavam sem guitarrista naquele momento. Estava sendo testado em algumas sessões de estúdio um guitarrista não muito conhecido, mas que já tinha um certo nome no underground londrino, Tony Iommi. O músico, que ficaria mundialmente conhecido por seu trabalho com o Black Sabbath, teve uma passagem relâmpago pelo Jethro Tull.
Essa seria a única apresentação de Tony Iommi com o Jethro Tull. Pouco depois ele seria demitido e voltaria a integrar o Earth, banda que mais tarde se tornaria o Black Sabbath. Anderson explica que a demissão de Iommi aconteceu porque eles consideravam que, apesar de talentoso, o guitarrista teria dificuldades para se adaptar ao ecletismo que estavam buscando para banda. Segundo o vocalista, eles não queriam tocar apenas "blues de brancos" como haviam feito no primeiro álbum e como era o estilo do então bluezero do Earth.
Ian Anderson, do Jethro Tull, talvez tenha a melhor percepção do que foi o evento, não só para a carreira de sua banda, mas para história do rock "O Circus foi mais importante para mim do que eu imaginava na época. Foi muito teatral e rocambolesco, bem no estilo do showbiz britânico. Talvez tenhamos herdado algo da estranha teatralidade humrística do Rock and Roll Circus, do Monty Pyton, dos Goons e outras empreitadas humorísticas da época".
Keith Richards, por sua vez, afirma que "foram dois dias de loucura total. Quando terminamos parecia que estávamos desanimados, tínhamos corrido demais. Só depois percebemos que aquilo não era só um amontoado de performances. Foi um evento muito especial. Um grupo único de pessoas, fazendo coisas que normalmente não faziam".

Para entender um pouco daquele clima, não deixe de ouvir o especial preparado pelo MOFODEU sobre o Rock and Roll Circus. Nele, você poderá ouvir algumas das canções executadas no evento, além de se informar de uma forma divertida e bem humorada.
Para ouvir, basta acessar: http://www.mofodeu.com/

Para ler a matéria completa, com todos os participantes do Rock and Roll Circus: whiplash 

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